terça-feira, novembro 08, 2005

 

Desumanos


O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber e reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe espaço.
— I. Calvino, Le città invisibili (trad. de José Colaço Barreiros).

Assim o jovem Marco Polo instrui o idoso Kublai Khan. A teologia negativa é mais modesta: saber reconhecer no meio do inferno dos mortos o que é inferno e não lhe dar espaço, abafá-lo como se de uma vela acesa se tratasse.



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