quinta-feira, novembro 03, 2005
Confissões
Why, what an ass am I! This is most brave,
That I, the son of a dear father murder'd,
Prompted to my revenge by heaven and hell,
Must, like a whore, unpack my heart with words,
And fall-a-cursing like a very drab,
A scullion! Fie upon't! Foh!
— W. Shakespeare, Hamlet.
A confissão não deixa de ser embaraçosa, mas o facto é que eu não tenho nenhuma Palavra para dizer, e muito menos a vontade de dizê-lA. Das raras vezes que tal vontade surge, apresso-me a escrevê-lA e, finalmente, ponho-A aqui no blog. Passado pouco tempo já está tudo esquecido.
Esta é para mim a maior justificação de manter aberto este blog: exercer essa iníqua violência que é o Esquecimento e afogar a Palavra à nascença.
Como Harold Bloom constantemente nos relembra, citando Nietzche do Crepúsculo dos Deuses na peugada de Hamlet, aquilo para o qual encontramos palavras já está morto nos nossos corações, e daí o desprezo pelo acto de falar. A única coisa que vale a pena dizer é aquilo que não pode ser dito.