sexta-feira, julho 15, 2005

 

Paul Celan


Em 1 de Julho de 1944, Celan escreve uma carta ao seu amigo de infância, Erich Einhorn. Na tradução para Inglês de John Felstiner:


Dear Erich,

I've come to Kiev for two days (on official business) and I'm glad of the chance to write you a letter that will reach you quickly.
Your parents are well, Erich, I talked with them before I came here. That's saying a lot, Erich, you can't imagine how much.
My parents were shot by the Germans. In Krasnopolka on the Bug River.
Erich, oh Erich.
There's much to tell. You've seen so much. I've experienced only humiliations and emptiness, endless emptiness. Maybe you can come home.

I've experienced only humiliations and emptiness, endless emptiness. O Filho percorreu o calvário até ao Golgota de uma vez para sempre, onde os pecados do Mundo foram pregados nas suas mãos e pés. Mas tenho que cá para mim, Deus escolhe a alguns para também eles carregarem com o peso dos pecados do Mundo, para que o resto dos Humanos, todos nós, possamos continuar de alguma forma. Uma espécie de Lei da Compensação.


die Offenen tragen
den Sein hinterm Aug,
der erkennt dich,
am Sabbath.

Estes são os últimos versos que Celan escreveu e são testemunha de uma esperança, ainda que ténue, de um Sábado de descanso final. Mas os mortos são ressuscitados ao Domingo e Celan cansou-se de esperar. Uma semana depois, exausto pelas humilhações e pela imensidão do Vazio, desapareceu nas águas escuras do Sena tendo Deus como única testemunha ocular.

E a nós o que resta? O que fica das humilhações e das perdas? Talvez escolher o Silêncio em vez do Ruído, a Quietude em vez da Impaciência, a Contenção interior em vez do Desperdício. São estas as nossas armas: a humilhação, a impotência, o silêncio, mas a maior de todas é a humilhação. A Humilhação é Infinita.


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